“TUDO SE APRESENTAVA MUITO SIMPLES E MUITO FÁCIL; NÃO SENTI VERTIGEM, NEM MEDO. E TINHA SUBIDO”

23 de outubro de 1906. Curiosos parisienses se aglomeram no parque Bagatelle para acompanhar a mais uma tentativa de conquistar a mais quente disputa da época – decolar, dirigir e pousar um aparelho “mais pesado que o ar” e autopropulsado. Depois de um dia inteiro de tentativas, seis segundos foram suficientes para consagrar Santos Dumont e seu planador denominado Oiseau de Proie ( ave de rapina ), evolução da máquina híbrida – avião + balão - desenhada, construída e manejada por ele mesmo, o 14-bis. O público foi a loucura. A imprensa replicou a notícia no mundo inteiro. O nome do Brasileiro fora gravado pra sempre na história.

Alberto Santos Dumont nasceu em Palmira, Minas Gerais, em 1873. O 6º de oito filhos do engenheiro Henrique Dumont e Francisca de Paula Santos. O garoto Alberto foi criado na liberdade das grandes fazendas do proeminente casal, que era detentor do maior estabelecimento agrícola do Brasil nos ano de 1880. Passava os dias destruíndo e montando coisas para descobrir o funcionamento das mesmas. Durante a adolescência foi incentivado pela leitura de grandes clássicos como os escritos de Júlio Verne. Os meios de transporte da inventiva mente do romancista francês causaram profunda admiração na mente do garoto, que desde já sonhava em ser o comandante de tantas aventuras.


"VIVI ALI UMA VIDA LIVRE, INDISPENSÁVEL PARA FORMAR O TEMPERAMENTO E O GOSTO PELA AVENTURA. DESDE A INFÂNCIA EU TINHA UMA GRANDE QUEDA POR COISAS MECÂNICAS E, COMO TODOS OS QUE POSSUEM OU PENSAM POSSUIR UMA VOCAÇÃO, EU CULTIVAVA A MINHA COM CUIDADO E PAIXÃO. EU SEMPRE BRINCAVA DE IMAGINAR E CONSTRUIR PEQUENOS ENGENHOS MECÂNICOS, QUE ME DISTRAÍAM E ME VALIAM GRANDE CONSIDERAÇÃO NA FAMÍLIA. MINHA MAIOR ALEGRIA ERA ME OCUPAR DAS INSTALAÇÕES MECÂNICAS DE MEU PAI. ESSE ERA O MEU DEPARTAMENTO, O QUE ME DEIXAVA MUITO ORGULHOSO."

Seu pai se formara em Paris. Seu escritor adorado era francês. Ao aprender sobre a navegação aérea descobriu que este mesmo território havia sido palco da invenção dos primeiros balões a hidrogênio – sua adoração pelo país cresceu e Paris se tornou um destino certo. Aos 18, viajou a passeio pela Europa, aperfeiçoou o seu inglês e escalou o Mont Blanc. No ano seguinte retornou para a França, iniciou estudos técnico-científicos e se aventurou pelo mundo do automobilismo.

Santos Dumont com 25 anos

A família abastada de Alberto Santos Dumont ajudou mas não foi decisiva para o seu sucesso. Em 1897, com apenas 24 anos de idade, o garoto herdeiro de uma bolada partiu de vez para a França. Ali contratou aeronautas profissionais para lhe passarem tudo que sabiam sobre a crescente arte de dirigir balões. Apesar do berço de ouro, foi na verdade o seu dinamismo e perseverança que o fizeram prosperar. Na virada do século Alberto já havia construído 9 infláveis a hidrôgenio e participado de alguns torneios de balonismo.

o nº 1

O garoto visionário estava longe de estar satisfeito. Ao mesmo tempo que se dedicava aos balões, investia suas horas também no estudo do voo controlado. Não aceitava estar a total mercê do ventos em suas ascenções. O nº 1, seu primeiro dirígivel alçou voo em 1898, subiu até uns 400 metros de altura e, por falhas técnicas, começou a se dobrar e cair. Escapou da morte certa pela primeira vez com seus 25 anos, e brincou em relação ao episódio tempos depois numa entrevista:

"A DESCIDA EFETUAVA-SE COM A VELOCIDADE DE 4 A 5 M/S. TER-ME-IA SIDO FATAL, SE EU NÃO TIVESSE TIDO A PRESENÇA DE ESPÍRITO DE DIZER AOS PASSANTES ESPONTANEAMENTE SUSPENSOS AO CABO PENDENTE COMO UM VERDADEIRO CACHO HUMANO, QUE PUXASSEM O CABO NA DIREÇÃO OPOSTA À DO VENTO. GRAÇAS A ESSA MANOBRA, DIMINUIU A VELOCIDADE DA QUEDA, EVITANDO ASSIM A MAIOR VIOLÊNCIA DO CHOQUE. VARIEI DESSE MODO O MEU DIVERTIMENTO: SUBI NUM BALÃO E DESCI NUMA PIPA."

Vieram o nº 2, o nº 3, o nº 4, o nº 5, o nº6. Com este, um dirigível de 622 metros cúbicos e motor de 20 cavalos, Santos Dumont venceu o desafio de um magnata do petróleo da época – Henri Deutsch de la Meurthe, que oferecera 100 mil francos para o primeiro maluco que conseguisse levantar voo do parque Saint Cloud em Longchamps, circundar a Torre Eiffel e voltar ao ponto de partida em menos de 30 minutos. Em 1901 o inventor vitorioso ganhou o dinheiro e distribui entre sua equipe e desempregados de Paris. Além do dinheiro da família, a fama já lhe sustentava nesta época - foi congratulado por líderes de vários países e recebeu a mesma quantia que ganhara no Prêmio Deutsch, desta vez do governo brasileiro, para continuar suas empreitadas.

o nº 5

o nº 5, na primeira tentativa de Santos Dumont de ganhar o Prêmio Deutsch

“NO TRAJETO PARA A TORRE EIFFEL, NEM UMA SÓ VEZ OLHEI PARA OS TELHADOS DE PARIS: EU FLUTUAVA SOBRE UM MAR DE BRANCO E AZUL, NADA MAIS VENDO SENÃO MEU OBJETIVO.”

Vieram então o Nº 7, nº 8, nº 9, nº 10. Neste período Santos Dumont testou vários tipos, tamanhos e propostas de dirigíveis. Alguns voaram, outros caíram, outros foram destruídos pela tempestade. De qualquer maneira, os parisienses acostumaram-se a ver o brasileiro flutuando pelos céus da cidade. Certa vez se gabou ao ser visto estacionar um de seus protótipos na calçada da avenida Champs Elysées, em frente ao seu apartamento – disse que havia saído para tomar o chá da manhã. A partir daí, pesando críticas de colegas que testavam aeroplanos, Alberto passou a se aventurar pela área da aviação. O nº 11, nº 12, nº 13 e finalmento o nº 14, foram todos estudos e tentativas de construir o primeiro aparelho mais pesado que o ar a alçar voo por conta própria.

“HÁ UM DITADO QUE ENSINA O GÊNIO É UMA GRANDE PACIÊNCIA; SEM PRETENDER SER GÊNIO, TEIMEI EM SER UM GRANDE PACIENTE. AS INVENÇÕES SÃO, SOBRETUDO, O RESULTADO DE UM TRABALHO TEIMOSO, EM QUE NÃO DEVE HAVER LUGAR PARA O ESMORECIMENTO.”

Até a semana que vem caros leitores : )