12 de fevereiro de 2005, estamos próximos ao pequeno município de Anapu no estado do Pará. As últimas folhas do dossel amazônico são as primeiras a receberem os raios do amanhecer. Irmã Dorothy, velha de guerra das lutas ambientais e sociais, caminha por uma trilha ainda úmida da noite fria, rumo a uma comunidade próxima para discursar em uma reunião pelos direitos da floresta. As copas se acendem como lustres de sua época mas impedem que os raios iluminem o seu caminho. Dois sujeitos de aparência chucra surgem das profundezas da mata, impedindo também o seu progresso. Os mesmos indagam se a senhora carrega alguma arma, ao mesmo tempo que deixam evidente a posse delas em suas próprias cinturas.


“Aqui está a minha arma.” – responde a freira em voz firme, enquanto abre a sua bíblia numa página marcada e tenta transpor a afronta dos mal-encarados.
“Abençoados sejam os pobres de espírito...” – ela lê enquanto experimenta alguns passos adiante, pouco antes de seis balas de revólver alcançarem o seu corpo.


"A MORTE DA FLORESTA É O FIM DA NOSSA VIDA"


Dorothy Mae Stang nasceu em Dayton, Ohio em 1931. Religiosa de corpo e alma, perpetuou seus votos de pobreza, castidade e obediência aos 25 anos de idade. Stang pertencia às Irmãs de Nossa Senhora de Namur, uma congregação católica internacional com mais de duas mil mulheres que realizam trabalhos pastorais através do globo. Em 1966 já estava no Brasil, iniciando seu ministério no Maranhão.


A década de setenta marcou o início das atividades na Amazônia que desencadeariam o trágico fim da Irmã Dorothy. Dot, como era chamada pela maioria dos que a conheceram, realizou diversas atividades junto aos trabalhadores rurais da região do Xingu. Promoveu ali a geração de empregos, projetos de reflorestamento e controle de conflitos fundiários. No Pará, lutou pelo desenvolvimento sustentável e reforma agrária através de uma intensa programação de discussões com lideranças políticas e religiosas. A irmã buscava soluções definitivas para os conflitos gerados pela exploração de terras da região. Ela queria justiça para a natureza e para os homens que a habitavam.


"NÃO VOU FUGIR E NEM ABANDONAR A LUTA DESSES AGRICULTORES QUE ESTÃO DESPROTEGIDOS NO MEIO DA FLORESTA. ELES TÊM O SAGRADO DIREITO A UMA VIDA MELHOR NUMA TERRA ONDE POSSAM VIVER E PRODUZIR COM DIGNIDADE SEM DEVASTAR."


Foram mais de 35 anos de batalha. A freira americana naturalizada brasileira dedicou grande parte de sua vida à nossa floresta – a floresta de todos nós, seres humanos, ectoparasitas da superfície terrestre – e por ela, morreu. Alguns dos seres unicelulares que planejaram e executaram a sua morte, por motivos políticos ou quaisquer que fossem os presentes em suas únicas células cerebrais, ficarão enjaulados por três décadas. Outros já estão soltos.


Por sua incansável batalha Irmã Dorothy recebeu reconhecimento internacional. Quem quiser saber mais sobre a sua jornada, assista o documentário brasileiro “Amazônia Revelada”(2005) ou o norte-americano “Mataram irmã Dorothy”(2009).


Até semana que vem .