Se você nunca ouviu, não gosta, tem preconceito ou não tem o mínimo interesse por baião, forró, choro, xote e afins, parou no lugar certo. Vamos falar de Dominguinhos, um grande mestre em todos estes estilos  - e você vai logo descobrir o que você tem a ver com isso.

José Domingos de Morais nasceu em 1941 em Pernambuco e foi um dos maiores instrumentistas nordestinos. Começou tocando triângulo no trio Os Três Pinguins. Aos 7 já estava tocando o acordeão nas apresentações junto a seus dois irmãos. Foi nesta época que, dando uma palhinha em frente a um hotel de sua cidade, foi surpreendido por um dos hóspedes – ninguém menos que Luís Gonzaga - que lhe promete uma sanfona novinha em folha se o moleque fosse lhe visitar na cidade grande, no Rio de Janeiro.

“EU NASCI COM UM BOCADO DE IRMÃOS, ÉRAMOS 16 , MINHA MÃE, MEU PAI. NAQUELA ÉPOCA ERA TUDO MUITO DIFÍCIL, MEIO PARECIDO COM HOJE EM DIA AINDA, MAS HOJE TEMOS MAIS COISAS"


As mazelas e encantos do sertão nordestino foram deixados na busca por uma vida melhor. Aos 13, José Domingos ganhou a tão sonhada sanfona das mãos de Gonzagão. Foi do Rei do Baião também que veio o apelido de Dominguinhos e o apadrinhamento musical. A cena do Rio estava farta de influências emergentes como a Bossa Nova, Tropicália e a Jovem Guarda. O garoto tratou de aprender de tudo em seu instrumento de fole pra poder tocar nas casas noturnas cariocas. O ritmo do seu coração, contudo, continuava mais ao norte.

"TOCAR, EU TOCO DE TUDO MESMO. DEPOIS QUE VOCÊ TEM EXPERIÊNCIA, NÃO É DIFÍCIL TOCAR COM O GIL, COM GAL, COM QUEM QUER QUE SEJA, PORQUE ELES COMEÇAM UMA MÚSICA E VOCÊ JÁ SABE PRA ONDE VAI, JÁ SABE TUDO. AGORA, É SÓ QUANDO EU TOCO TOADA, BAIÃO E FORRÓ É QUE EU SINTO AQUELA COISA FLAMEJANTE AQUI NO PEITO."

Um multi-instrumentista versátil de temperamento dócil – características comuns dos que provém de classes desprovidas e alcançam o sucesso. Dominguinhos, assim como muitos dos artistas brasileiros, é fruto da luta sofrida por uma vida digna, em meio a batalha de desigualdade social de nosso país. Ele transitou entre todos os estilos musicais de raízes tupiniquins e entre o mesmo enredo que enfrentamos diariamente em busca de um final feliz, e venceu.

Na terça-feira, aos 72 anos, o nordestino de sorriso singelo chegou ao ponto final de sua história. Muitos prêmios na bagagem, inclusive dois Grammys Latinos, uma quantidade incontável de músicas que tocou e cantou ao lado de músicos renomados como Gilberto Gil, Chico Buarque e Gal Costa. No repertório, deixou melodias como “Eu Só Quero um Xodó”, que já foi regravada mais de 250 vezes - até mesmo em inglês, holândes e italiano – e que se por acaso não mexem com você, ou pelo menos com o dedão do seu pé, você não deve ser lá muito brasileiro.

Até breve, caros leitores : )